domingo, 1 de agosto de 2010

The Aleph-George Dunning, 1972

Quatro anos depois de dirigir "Submarino Amarelo" a animação psicodélica inspirada pelo trabalho dos Beatles e com trilha sonora deles George Dunning foi convidado por produtores ingleses pra criar outro filme de animação desta vez baseado no trabalho do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986).
A parceria com o diretor de arte e ilustrador Heinz Edelmann responsável pela exuberância colorida e fantástica do Submarino dos Beatles foi refeita tornando o universo fantástico de Borges, que era narrado pelo escritor com muita sobriedade, algo mais próximo de uma "good trip" lisérgica ao som do tango e `a luz das amareladas lâmpadas de sódio de Buenos Aires de meados dos anos 40.
O responsável pela adaptação foi Héctor Oesterheld roteirista de quadrinhos argentino célebre pela obra genial e por ter sido abduzido em 77 pela máquina de moer carne que foi a ditadura militar argentina. De Oesterheld temos a conversão de literatura em cartoon mais bem realizada do cinema. Aliás, das melhores adaptações já feitas do trabalho de Borges, superior inclusive `a "A Estratégia da Aranha" de Bertolucci.
Os curtas "O Imortal", "Os Dois Reis e Os Dois Labirintos" e "O Aleph" são os pontos altos e ilustram os contos com imagens estranhamente familiares. É como se o desenho de Edelmann já tivesse sido visto em nossas mentes ao ler Borges. Mas Borges é exatamente isso, literatura clássica revisitada e fantasiada. Edelmann faz o mesmo: loucura e fantasia flower power com os traços do leste europeu do século 19.
As vozes são de apenas quatro atores, estrelas do cinema que se muiltiplicam nas dezenas de papéis: Trevor Howard, Hanna Schygulla, Fernando Rey e Anna Karina.
Ah! Os produtores ingleses são o bureau de design Hipgnosis responsável por capas de discos clássicos dos grupos Pink Floyd e Led Zeppelin do qual, aliás, saiu o baixista John Paul Jones para criar a trilha sonora genial de O Aleph.
E para terminar, preparam uma refilmagem de "Submarino Amarelo" produzida por Robert "De Volta para o Futuro" Zemeckis. Se um pouco do espírito original estiver lá pode ser divertido voltar a Pepperland em 3D.

sábado, 22 de maio de 2010

Blade Runner em 3D

Depois de 2001, Uma Odisséia no Espaço, Ben Hur e O Resgate do Soldado Ryan serem lançados em versão 3D Blue Ray, finalmente, depois de anunciado um pouco prematuramente, foi lançado Blade Runner em sua versão Stereo.
Assim como os outros lançamentos, foram recriadas sequências inteiras para a versão Stereo o que continua a alimentar a polêmica a respeito de adulterar filmes clássicos tendo em vista oferecer "algo mais" pra quem se dispuser a gastar os R$200 desses novos lançamentos que se propôem a reinventar o Home Video mundial.
A polêmica, que lembra um pouco a colorização dos filmes originalmente em preto e branco para lançamento em vídeo nos anos 80, acontece porque diretores "convidados" metem a mão nos trabalhos de criadores há muito falecidos como Stanley Kubrick e recriam sequências como o lançamento do osso pelo primata em direção à câmera enquanto no 2001 original o osso era lançado para cima e acontecia o corte mais famoso da história do cinema para uma espaçonave. Agora o corte não funciona mais apesar do osso ser visto voando em direção de quem estiver usando as novas lentes de contato Bausch-Sony. (O diretor convidado Martin Campbell defende a adulteração com unhas, dentes e um monte de teorias criadas provavelmente em algum escritório de marketing que fariam André Bazin sair do túmulo e esganar os cinco ou seis responsáveis).
De qualquer forma, Blade Runner foi lançado e temos que falar sobre isso senão o editor me despede já que temos anúncio de página inteira do lançamento duas páginas depois desse artigo.
As novas sequências recriadas pelo próprio diretor (Scott, que saiu da aposentadoria na sua ilha perto de Hokkaido meio a contra gosto pra esse job) basicamente envolvem tours mais longos pela Los Angeles do futuro, mais cameras subjetivas nas cenas de perseguição e...surpresa! O ponto de vista dos andróides, com análise termal e outros gadgets, imitação do olhar do alienígena de Predador, aliás.
O extra que faz valer a pena na verdade é a animação em 3D que Katsuhiro Otomo, criador do Mangá e da animação Akira fez inspirado nos personagens do filme e que se passaria anos antes da história principal.
Além disso, uma entrevista em vídeo desconhecida de Philip K. Dick esclarece a origem do conto "Do Androids Dream of Eletric Sheep?" e sua visita ao set do filme onde conversou com o diretor e atores principais. Um pouco constrangedora sua tentativa de convencer o cast que estamos ainda no ano 50 da era cristã, delírio que levou até o leito de morte.
E, finalmente, foi confirmado ser apenas um boato a destruição das cópias originais de 2001. Quem quiser ver o original em 2D ainda pode.

sábado, 8 de maio de 2010

As Presas-Tony Richardson (1962)

Da peça de John Osborne, "The Beloved Preys", Tony Richardson e Osborne adaptaram essa comédia de humor muito negro sobre um lugar muito parecido com a Inglaterra do final dos anos 50 em que duas raças convivem pacificamente apesar de no passado não muito distante uma ter servido de alimento para a outra. Interessante que os atores que representam as duas raças não aparentam serem de raças diferentes. Assim como na montagem que estreou em Londres em 59, Richard Burton faz um empregado de multinacional que tem filial em seu país. Burton era da raça que servia de presa e o quartel general de sua companhia fica no país que costumava devorar seus antepassados.
A peça, segundo o crítico do Times da época, era uma crítica feroz ao colonialismo tardio europeu. O filme, nem tanto. Mesmo assim ficou proibido na França por mais de 15 anos, ou até Argélia e Indochina serem perdidos para sempre.
Richard Burton repete o tipo atormentado de "Look Back in Anger" mas com mais sutileza e cinismo. Participações célebres de Lawrence Olivier como o dono da multinacional, Julie Christie como sua filha e, incrível, David Bowie como um menino que é caçado numa floresta em um flashback.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Moon Cottage For Three - Billy Wilder (1959)

A Lua nunca esteve tão doida como nessa comédia desconhecida de Billy Wilder em que Jerry Lewis e Walter Matthau, astronautas do programa espacial americano têm que conviver por 6 meses em uma estação na Lua com o roteiro ambientado no futuro escrito por Charles Lederer. Os dois não se dão bem já que Walter faz o astronauta bon vivant  (que consegue comer caviar e tomar champanhe em gravidade zero) enquanto Jerry, como contraponto, é o novato caxias e patriota que acha que completar a missão é a coisa mais importante do mundo. Enquanto isso, pra desequilibrar ainda mais essa relação, Walter faz de tudo pra fazer contato com a estação espacial russa na qual duas cosmonautas em trajes justinhos tentam, também a contragosto, completar sua missão: ficar 6 meses sem sexo. As cosmonautas são interpretadas por Anita Ekberg e, de cabelo curto e morena, Shirley Maclaine que reprisam a parceria de "Artistas e Modelos" de Frank Tashlin que tinha Jerry Lewis e Dean Martin também no elenco.
Diálogos rápidos e potentes. Poucas piadas visuais para um filme de Jerry Lewis e sua incursão no estilo de comédia sofisticada de Wilder apesar da estória fantasiosa.
Participações de astros como Marlon Brando, Conrad Veidt e Paul Muni na sala de controle em Houston.